Sabia que o cérebro humano consegue estudar-se a si próprio?

Sabia que o cérebro humano consegue estudar-se a si próprio?

 

Parece um paradoxo, mas é verdade! O cérebro, responsável pela nossa consciência e perceção, tem a capacidade única de se estudar a si próprio. Mas como pode um órgão analisar-se a si mesmo? Como pode o cérebro ser simultaneamente o objeto e o instrumento de estudo?

Uma revisão recente, liderada por Simone Battaglia, explorou estas questões, juntando perspetivas filosóficas e neurocientíficas. Ao tentar entender a si mesmo, o cérebro enfrenta um dilema único: como pode um sistema complexo analisar suas próprias funções sem um ponto de referência externo? Este dilema é comparado ao conceito filosófico de "autorreferência", onde um sistema deve se definir e se compreender a partir de dentro.

Outra principal questão é a dicotomia entre a objetividade científica e a subjetividade da experiência consciente. O estudo sugere que a compreensão completa do cérebro e da mente requer uma abordagem que integre ambos os aspetos. Efetivamente, os cientistas combinam técnicas avançadas de imagem cerebral que estudam o cérebro a nível estrutural e funcional, como a ressonância magnética (MRI) por exemplo, com a introspeção, que é a reflexão sobre pensamentos e experiências. Essas abordagens complementares permitem uma compreensão mais profunda dos mecanismos subjacentes à consciência e à perceção. Estudar como o cérebro gera diferentes estados de consciência pode ajudar a identificar sinais de distúrbios como a depressão ou esquizofrenia, e novas formas de tratar o stresse pós-traumático, por exemplo.

Ainda há muito por descobrir, mas estes estudos podem abrir novas possibilidades para a forma como entendemos e tratamos a mente humana. Esta revisão foi publicada na revista científica Physics of Life Reviews, no artigo The paradox of the self-studying brain, no âmbito do projeto de investigação 235/22 - SPARKS: Driving associative plasticity in the cortically blind brain to promote recovery of visual awareness, apoiado pela Fundação BIAL.


ABSTRACT

The paradox of a brain trying to study itself presents a conundrum, raising questions about self-reference, consciousness, psychiatric disorders, and the boundaries of scientific inquiry. By which means can this complex organ shift the focus of study towards itself? We aim at unpacking the intricacies of this paradox. Historically, this question has been raised by philosophers under different frameworks. Thanks to the development of novel techniques to study the brain on a functional and structural level - as well as neurostimulation protocols that can modulate its activity in selected areas - we now possess advanced methods to progress this intricate inquiry. Nonetheless, the broader implications of the brain's pursuit of understanding itself remain unclear to this day. Ultimately, the need to employ both perception and introspection has led to different formulations of consciousness. This creates a challenge, as evidence supporting one formulation does not necessarily support the other. By deconstructing the paradoxical nature of self understanding - from a philosophical and neuroscientific point of view - we may gain insights into the human brain, which could lead to improved understanding of self-awareness and consciousness.