Prémio Maria de Sousa 2024 entregue no evento de celebração dos 30 Anos da Fundação BIAL

Prémio Maria de Sousa 2024 entregue no evento de celebração dos 30 Anos da Fundação BIAL

Jovens investigadores premiados nas áreas das células estaminais, acidente vascular cerebral, envelhecimento, doença respiratória fúngica e doença inflamatória intestinal

Este ano incluída no evento de celebração dos 30 Anos da Fundação BIAL, a cerimónia de entrega da quarta edição do Prémio Maria de Sousa decorreu no dia 9 de outubro, e foi presidida pelo Primeiro-Ministro, Luís Montenegro. Depois de os cinco premiados terem subido ao palco para receber os galardões, teve lugar a muito aguardada conferência “Sobre a Fisiologia da Mente 2024” de António Damásio e Hanna Damásio, que encheu a Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa.

Uma plateia de cerca de 1500 pessoas, com perto de 3000 a assistir online, aplaudiu os cinco vencedores do Prémio Maria de Sousa 2024, todos jovens investigadores em ciências da saúde.

Os projetos de Maria Arez (iBB, IST, U.Lisboa), Pedro Nascimento Alves (CEEM, FMUL, U. Lisboa, ULSSM), Ana Rita Araújo (i3S, U.Porto), Samuel Gonçalves (ICVS, U.Minho) e Joana Gaifem (i3S, U.Porto) foram selecionados entre 62 candidaturas e focam-se na investigação nas áreas das células estaminais, acidente vascular cerebral, envelhecimento, doença respiratória fúngica e doença inflamatória intestinal.

Numa parceria exclusiva da Ordem dos Médicos e Fundação BIAL, este prémio presta homenagem à imunologista e grande investigadora portuguesa Maria de Sousa, que será sempre recordada como uma personalidade ímpar da ciência a nível mundial.

Depois da intervenção de abertura pelo anfitrião Luís Ferreira, Reitor da Universidade de Lisboa, que felicitou a Fundação BIAL pelo seu aniversário e enalteceu “o trabalho desenvolvido por António e Hanna Damásio sobre a forma como entendemos a mente humana”, discursou o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, destacando a contribuição da Fundação BIAL para o desenvolvimento da ciência e investigação em Portugal. “Hoje estamos perante uma nova conquista sem precedentes na história da humanidade, a inteligência artificial, que está a levantar desafios nos cuidados de saúde, medicina e ciência”, refletiu o bastonário.

Seguiu-se o discurso do presidente do Júri do Prémio Maria de Sousa, Rui Costa, que evocou a cientista que dá nome ao Prémio, recordando-a como uma das maiores figuras da investigação científica em Portugal. Este Prémio “foi criado para homenagear esta extraordinária contribuição que a Maria teve no campo da saúde com descobertas fundamentais com aplicação clínica e a excecional contribuição a incentivar as novas gerações de investigadores portugueses”. O neurocientista lembrou que Maria de Sousa foi “uma das mais notáveis cientistas de imunologia a nível mundial, tendo descoberto a migração dos linfócitos T e as áreas dependentes do timo em órgãos secundários”.

Para além de Rui Costa, o júri é composto por investigadores que foram muito próximos de Maria de Sousa: Maria do Carmo Fonseca, presidente do Instituto de Medicina Molecular (iMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Miguel Castelo-Branco, diretor do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) da Universidade de Coimbra, Joana Palha, professora catedrática da Escola de Medicina da Universidade do Minho, e João Relvas, investigador e Group Leader no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S).

Depois da entrega de prémios e apresentação dos projetos vencedores, tomou a palavra o Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), Paulo Jorge Ferreira, realçando os 100 anos da BIAL, os 40 anos do primeiro prémio criado pela farmacêutica e os 30 anos da Fundação BIAL, pelo que encontra assim "uma tripla razão para desejar bons aniversários”. “É natural que a parceria que tem existido entre a Fundação BIAL e o CRUP se mantenha, se amplie e se desenvolva porque são instituições com o mesmo interesse no talento, na ciência, no conhecimento e na transformação do país para melhor”.

De seguida, as atenções voltaram-se para a intervenção do Fundador e Presidente da Fundação BIAL, Luís Portela, que percorreu toda a história da Fundação desde a criação do Prémio BIAL, em 1984, gerido pela BIAL durante dez anos, com especial destaque sobre a criação da Fundação em maio de 1994, testemunhada por Mário Soares e Paulo Mendo, passando pela criação dos Apoios à Investigação Científica, Simpósios “Aquém e Além do Cérebro”, BIAL Award in Biomedicine, e mais recentemente, do Prémio Maria de Sousa.

Num discurso emocionante, interrompido algumas vezes por aplausos do público, Luís Portela lembrou "os homens e mulheres que deram corpo à Fundação BIAL e foram o motor do desenvolvimento da instituição", manifestando o seu “profundo agradecimento pela forma competente, dedicada, apaixonada como têm sabido, através da Fundação BIAL, servir os interesses de desenvolvimento da ciência que se faz em saúde”.  

Foi marcante o momento da subida ao palco de António Damásio, neurocientista de renome mundial, sob o esmagador aplauso coletivo de uma Aula Magna repleta. Na conferência “Sobre a Fisiologia da Mente 2024”, preparada em conjunto com Hanna Damásio, o presidente do Conselho Científico da Fundação BIAL começou por partilhar uma história sobre a amizade do casal com a cientista Maria de Sousa.

Despertando a curiosidade dos participantes desde o anúncio da sua vinda a Portugal, António Damásio abordou, durante cerca de uma hora, as diferentes características da mente humana consciente. À questão “o que é a consciência?”, o conceituado neurocientista responde que a “consciência resulta de estados de sentimentos homeostáticos que descrevem qualidades e intensidades do processo de vida em curso, sendo todos eles espontaneamente conscientes”. Houve ainda tempo para António e Hanna Damásio interagirem com a assistência, respondendo às perguntas levantadas pelos participantes.

A encerrar a sessão, o Primeiro-Ministro enalteceu a atuação da Fundação BIAL, recordando a virtude de “juntar as universidades, as empresas, as associações ou fundações, e todos se conjugarem no esforço, ainda por cima sem nenhuma necessidade de financiamento público, para aprofundar a dimensão que a ciência e o conhecimento nos trazem e que depois tem aplicação na vida das pessoas".

Sobre a investigação dos vencedores do Prémio Maria de Sousa, Luís Montenegro salientou que "é a demonstração de que vale a pena apostar no conhecimento e vale a pena que alguns recursos, mesmo vindos das empresas, da iniciativa privada, possam ser alocados a algo que é imaterial, que é universal".

O prémio, que teve a sua primeira edição em 2021, é anualmente atribuído a cinco jovens investigadores, no valor de até € 30.000 para cada um, incluindo obrigatoriamente um estágio num centro internacional de excelência. A próxima edição está prevista para 2025.

Projetos premiados

Maria Arez | Uma nova abordagem para corrigir defeitos de imprinting genómico durante a reprogramação de células estaminais pluripotentes induzidas

A descoberta das células estaminais pluripotentes induzidas (iPSCs) revolucionou a biomedicina, permitindo métodos personalizados em medicina regenerativa e no desenvolvimento de modelos de doença. No entanto, as iPSCs enfrentam desafios que limitam o seu uso clínico. Este trabalho visa compreender as causas dos erros que ocorrem durante a criação das iPSCs e, com isto, desenvolver um método inovador para evitar esses defeitos, garantindo assim a integridade destas células. O sucesso deste trabalho contribuirá significativamente para a área das células estaminais melhorando a segurança e eficácia das iPSCs em contextos científicos e clínicos.

Pedro Nascimento Alves | Modulação personalizada dos circuitos de neurotransmissores em doentes com AVC

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de alterações cognitivas e existe uma relação demonstrada entre estas e a disfunção de circuitos de neurotransmissão. Atualmente, não existe tratamento farmacológico para os défices cognitivos pós-AVC. Recentemente, foi desenvolvido um novo atlas dos circuitos de neurotransmissores em tractografia cerebral, e criado o NeuroT-Map, um método para quantificar o impacto das lesões vasculares na disfunção desses circuitos, abrindo-se a possibilidade de terapêuticas personalizadas.

Ana Rita Araújo| BOOST-Age: Reforçar a capacidade proliferativa dos tecidos envelhecidos para manter o bom funcionamento dos órgãos

O envelhecimento da população mundial está a exercer uma pressão significativa sobre os sistemas de saúde, à medida que as co-morbilidades relacionadas com as doenças crónicas se tornam mais prevalentes com a idade. Com este projeto queremos perceber se as células que proliferam durante mais tempo ao longo da nossa vida têm um papel protetor na manutenção da função dos diferentes tecidos e ajudam à desaceleração do envelhecimento.

Samuel Gonçalves | Regulação da imunidade antifúngica pelo metabolismo do colesterol no contexto de doença respiratória fúngica

A aspergilose pulmonar invasiva (API) é uma doença fúngica oportunista que afeta, anualmente, 2 milhões de indivíduos imunocomprometidos e cujo diagnóstico e tratamento continua a ser problemático, resultando em taxas de mortalidade anuais de 85%. Este projeto foca-se no estudo dos mecanismos moleculares, através dos quais, o metabolismo do colesterol contribui para as respostas imunitárias antifúngicas. A compreensão detalhada de como o metabolismo celular pode contribuir para a suscetibilidade à API, vai permitir encontrar novos alvos terapêuticos e desenvolver novas estratégias de medicina personalizada.

Joana Gaifem | Alimentar a imunidade: glicanos como agentes nutricionais na dinâmica hospedeiro-microbioma na DII

A doença inflamatória intestinal (DII), que se divide em Doença de Crohn e Colite Ulcerosa, caracteriza-se por uma inflamação no intestino que tem um grande impacto na qualidade de vida dos doentes. Um dos maiores desafios no manejo clínico na gestão clínica da doença inflamatória intestinal (DII) passa pelo caráter multifactorial desta patologia. Com o nosso projeto pretendemos estudar de que forma é que a presença ou ausência de açúcares (glicanos) que estão à superfície das células do intestino consegue influenciar os microorganismos que estão presentes neste órgão, de forma a desenvolver uma nova estratégia para promover a saúde intestinal.