Os sonhos são como janelas para a mente, refletindo memórias, crenças e preocupações diárias, enquanto desempenham um papel essencial na aprendizagem, na consolidação das memórias e até na nossa saúde mental e física. Embora quase todas as pessoas sonhem, a capacidade de recordar essas experiências varia muito de indivíduo para indivíduo. Uma investigação liderada por Giulio Bernardi procurou compreender melhor este fenómeno, analisando os fatores que influenciam a recordação dos sonhos. Para isso, a equipa utilizou uma base de dados multimodal que recolheu relatos de sonhos, características pessoais e medidas cognitivas, psicométricas e neurofisiológicas. Os resultados apontam três fatores principais que determinam se uma pessoa acorda com a recordação da experiência do sonho: a atitude em relação aos sonhos, a tendência para a divagação mental e os padrões de sono. Além disso, a capacidade de recordar detalhes do sonho depende da resistência à interferência e da idade. Curiosamente, padrões de sono semelhantes parecem favorecer tanto os sonhos com conteúdo quanto os chamados “sonhos brancos” - aqueles de que sabemos ter tido, mas cujo conteúdo nos escapa. Isto sugere que os sonhos brancos são experiências reais, cujas memórias simplesmente desaparecem ao despertar. Este estudo reforça a ideia de que os sonhos são moldados por fatores individuais e momentâneos, abrindo novas perspetivas para compreender a sua ligação com a memória e a mente humana. Este estudo foi publicado na revista científica Communications Psychology - Nature, no artigo The individual determinants of morning dream recall | Communications Psychology, no âmbito do projeto de investigação 91/20 - Mentation report analysis across distinct states of consciousness: A linguistic approach, apoiado pela Fundação BIAL.
ABSTRACT
Evidence suggests that (almost) everyone dreams during their sleep and may actually do so for a large part of the night. Yet, dream recall shows large interindividual variability. Understanding the factors that influence dream recall is crucial for advancing our knowledge regarding dreams’ origin, significance, and functions. Here, we tackled this issue by prospectively collecting dream reports along with demographic information and psychometric, cognitive, actigraphic, and electroencephalographic measures in 217 healthy adults (18–70 y, 116 female participants, 101 male participants). We found that attitude towards dreaming, proneness to mind wandering, and sleep patterns are associated with the probability of reporting a dream upon morning awakening. The likelihood of recalling dream content was predicted by age and vulnerability to interference. Moreover, dream recall appeared to be influenced by night-by-night changes in sleep patterns and showed seasonal fluctuations. Our results provide an account for previous observations regarding inter- and intra-individual variability in morning dream recall.