Ordem dos Médicos e Fundação BIAL entregam 3ª edição do Prémio Maria de Sousa

Ordem dos Médicos e Fundação BIAL entregam 3ª edição do Prémio Maria de Sousa

Jovens investigadores premiados na área do Lúpus, Distúrbios do Stress, Crescimento Fetal, Cancro Gástrico e Alzheimer

A cerimónia de entrega da terceira edição do Prémio Maria de Sousa decorreu no dia 16 de novembro no Teatro Thalia, em Lisboa, e contou com a presença da Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, a presidir à sessão, da Secretária de Estado da Promoção da Saúde, Margarida Tavares, e do Secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Teixeira.

Os cinco vencedores, todos jovens investigadores em ciências da saúde, são Inês Alves (i3S, U.Porto), Nuno Dinis Alves (ICVS, U.Minho), Catarina Palma dos Reis (CHULC - Maternidade Dr. Alfredo da Costa, Lisboa), João Neto (i3S, U.Porto) e Sara Calafate (ICVS, U.Minho).

Os projetos premiados na edição de 2023 foram selecionados entre 55 candidaturas e focam-se na investigação nas áreas do Lúpus, Distúrbios do Stress, Crescimento Fetal, Cancro Gástrico e Alzheimer.

Numa parceria exclusiva da Ordem dos Médicos e Fundação BIAL, este prémio presta homenagem à imunologista e grande investigadora portuguesa Maria de Sousa, que será sempre recordada como uma personalidade ímpar da ciência a nível mundial.

Na sua intervenção, o bastonário da Ordem dos Médicos, destacou a importância da ciência, que “não se suspende, evolui permanentemente e ajuda-nos a ter um mundo melhor”. Carlos Cortes realçou ainda que “o Prémio Maria de Sousa é um sinal de humildade, tem a designação de uma grande investigadora, mulher reconhecida nesta área, e representa o que é a ciência”.

O presidente da Fundação BIAL recordou aos presentes que Maria de Sousa “era uma mulher inteligente, com grande capacidade de trabalho, que pugnava pela excelência e que se tornou uma cientista de referência". "Alguns saberão o carinho especial que ela dedicava aos jovens investigadores e como valorizava a sua experiência em centros internacionais de excelência”, referiu Luís Portela no seu discurso.

A seguir aos discursos oficiais, a cerimónia contou com a declamação de poemas da autoria de Maria de Sousa, pela jornalista e escritora Anabela Mota Ribeiro, num momento memorável de evocação da cientista que tinha também o talento de escrever poesia. Anabela Mota Ribeiro começou por ler um excerto do seu livro “Este Ser e Não Ser - cinco conversas com Maria de Sousa”, que havia sido apenas distribuído na comunidade científica, e que foi nesta cerimónia oferecido aos cinco premiados.

“A sensação que tenho é que escrevo, e sobretudo escrevo nalguns momentos, para procurar fazer parar o momento”, foram palavras de Maria de Sousa, em novembro de 2014, sobre a importância da escrita e da memória. Foram também declamados poemas dos livros “Meu Dito, Meu Escrito”, lançado em 2014, que reúne conferências e monólogos de Maria de Sousa, e de “A Hora e a Circunstância”, da autoria de Maria de Sousa e Agostinho da Silva, publicado em 1988.

No seu discurso, o presidente do Júri lembrou que "este prémio galardoa uma fase especial da carreira dos jovens investigadores na área da saúde”. “É uma bolsa de desenvolvimento, que apoia os investigadores numa fase crucial da carreira”, refere o neurocientista.

Rui Costa, que preside ao Júri desde a primeira edição do Prémio, destacou ainda que “o que a Maria de Sousa e a Fundação BIAL têm vindo a construir são castelos humanos porque, mais do que as redes, os castelos humanos ajudam as pessoas a chegar mais além”.

A encerrar a sessão, a Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior realçou a importância do Prémio Maria de Sousa. “É extremamente importante nós premiarmos, neste caso em particular, a investigação de excelência que se faz na área da saúde. Muito obrigada por o fazerem", finalizou.

Para além de Rui Costa, o júri é composto por investigadores que foram muito próximos de Maria de Sousa: Maria do Carmo Fonseca, presidente do Instituto de Medicina Molecular (iMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Graça Porto, diretora do grupo de investigação sobre a biologia do ferro do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, Miguel Castelo-Branco, diretor do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) da Universidade de Coimbra, e Joana Palha, professora catedrática da Escola de Medicina da Universidade do Minho.

O prémio, que teve a sua primeira edição em 2021, é anualmente atribuído a cinco jovens investigadores, no valor de até € 30.000 para cada um, incluindo obrigatoriamente um estágio num centro internacional de excelência.

Projetos premiados

Inês Alves | Glycan2B – Identificação de um novo autoanticorpo anti-glicano na autoimunidade: uma nova perspectiva de biomarcadores em Lúpus

O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doença autoimune clássica com maior prevalência em mulheres jovens em idade ativa (16 - 49 anos). Uma das formas mais graves da doença é a nefrite lúpica, que pode progredir para doença renal crónica/terminal. O diagnóstico precoce e a monitorização clínica e terapêutica destes doentes é ainda um grande desafio no LES, não havendo biomarcadores capazes de predizer quais os doentes que irão progredir para uma doença complicada. Com este trabalho, a premiada pretende criar novas formas de diagnosticar e prever quão grave o Lúpus será para cada pessoa, permitindo otimizar as estratégias de tratamento destes doentes e evitar os sintomas agressivos que caracterizam esta doença.

Nuno Dinis Alves | A importância das projeções serotoninérgicas para a flexibilidade cognitiva e a sua habilidade para reverter alterações em doenças associadas com o stress crónico

Sendo a rigidez e a inflexibilidade cognitiva um dos sintomas mais difíceis de tratar em doentes com perturbações psiquiátricas associada a experiências stressantes, como a depressão, é fundamental identificar os mecanismos envolvidos, de forma a melhorar as ações terapêuticas sobre estas alterações comportamentais. Recentemente, o premiado descobriu que a libertação de serotonina numa sub-região do córtex pré-frontal, o córtex prelímbico, desempenha um papel determinante na flexibilidade. Este trabalho vai estudar a interação entre as inervações serotoninérgicas para as sub-regiões do córtex pré-frontal, a sua ação no circuito local e a sua dinâmica durante as tarefas de flexibilidade cognitiva. Além disso, através da modulação da sinalização serotoninérgica do córtex pré-frontal, pretende-se reverter a inflexibilidade cognitiva induzida pelo stress.

Catarina Palma dos Reis | Vesículas derivadas do sinciciotrofoblasto na restrição de crescimento fetal

Este projeto foca-se na restrição de crescimento fetal (RCF), uma doença em que, por mau funcionamento da placenta, o feto não consegue obter o oxigénio e nutrientes de que necessita e fica assim em risco de morte in utero, crescimento insuficiente e com sequelas importantes a nível neurológico e cardiovascular. Sendo a RCF a causa de mais de 50% das mortes fetais, é crucial melhorar a capacidade de diagnóstico desta doença. Este projeto vai olhar para as vesículas que a placenta liberta para a circulação materna e que funcionam como biópsias placentares circulantes, permitindo distinguir placentas saudáveis de placentas doentes. Espera-se em primeiro lugar, obter a assinatura das vesículas de gestações com RCF, para a seguir se testar o sangue de grávidas com RCF e verificar se se encontram diferenças entre proteínas e ácidos nucleicos contidos em vesículas produzidas por placentas saudáveis, e por placentas com RCF, e se estas diferenças poderão ser utilizadas como diagnóstico para esta doença.

João Neto | Descoberta dos mecanismos moleculares subjacentes à resistência e sensibilidade à terapia no cancro gástrico HER2-positivo através de ensaios pangenoma de CRISPR

O cancro gástrico (CG) é o quinto tipo de cancro mais comum e a quarta causa de mortalidade por cancro no mundo. O CG apresenta alta mortalidade porque é geralmente diagnosticado em estádio avançado, onde as opções de tratamento eficazes são escassas. Um dos poucos tratamentos disponíveis nesta fase é a terapia anti-HER2, porém menos de metade dos pacientes elegíveis beneficiam desse tratamento ou acabam por desenvolver resistência. Atualmente, os mecanismos que impedem a eficácia do trastuzumab (um inibidor de HER2) em doentes HER2-positivos ainda não são bem conhecidos, impedindo a sua implementação clínica ideal. Este projeto irá contribuir para o desenvolvimento de novas opções de tratamento para os doentes com CG HER2-positivos que não respondem, ou que adquirem resistência, ao tratamento com inibidores de HER2, permitindo melhorar o prognóstico destes doentes, e identificar doentes que não beneficiem da terapia anti-HER2, poupando efeitos secundários desnecessários.

Sara Calafate | Modulação do estado celular da microglia pelo sistema de sono MCH no contexto da doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer caracteriza-se pela acumulação progressiva de proteínas tóxicas no cérebro. Durante o longo período que antecede o aparecimento de sintomas como declínio cognitivo, o cérebro sofre alterações fisiológicas que resultam na desregulação da sua atividade. Para além disso, neste período os padrões de sono sofrem também alterações e os níveis inflamatórios no cérebro aumentam. É, portanto, importante compreender-se como é que estas alterações iniciais ocorrem, pois elas podem explicar a progressão da doença e o aparecimento de falhas cognitivas. Num trabalho recente, a premiada mostrou que o sistema responsável pela produção da hormona concentradora da melanina (MCH) está desregulado tanto num modelo animal para a doença, como em pacientes da doença de Alzheimer. Este projeto pretende estudar se o sistema de MCH regula a resposta da microglia no contexto fisiológico e de doença e, desta forma, compreender os mecanismos fundamentais da comunicação entre neurónios com a microglia e subsequentemente a regulação da neuroinflamação.