Investigações recentes apontam para a possibilidade de dois processos coexistirem na forma como o cérebro representa o corpo humano: um baseado em informações visuo-espaciais e outro em informações linguísticas. Esse modelo sugere que, além de dependermos da perceção visual para entender as relações entre as partes do corpo, também usamos informações extraídas da linguagem. Um estudo desenvolvido por Luca Rinaldi e colaboradores explorou esta ideia ao investigar diretamente se essas duas formas de representação - percetual e linguística - realmente coexistem. Para isso, os investigadores utilizaram modelos semânticos de distribuição (DSMs), ferramentas computacionais que analisam textos para identificar como palavras (e, neste caso, partes do corpo) estão relacionadas na linguagem. Por exemplo, palavras como "mão" aparecem frequentemente associadas a "braço" ou "dedo" nos textos. Essas relações linguísticas foram usadas para construir um mapa corporal, baseado nas distâncias semânticas entre diferentes partes do corpo. Para testar este mapa linguístico, os investigadores realizaram duas experiências comportamentais. Em ambas, os participantes precisavam avaliar a proximidade entre partes do corpo, apresentadas como palavras ou como imagens. Os resultados mostraram que tanto as informações percetuais (baseadas na visão) quanto as linguísticas (extraídas da linguagem) influenciavam o desempenho dos participantes. Em outras palavras, as representações linguísticas complementavam as visuais, sugerindo que o cérebro utiliza ambas as fontes de informação ao processar e organizar mentalmente o corpo humano. Estes resultados apoiam teorias que argumentam que as representações mentais combinam informações percetuais e linguísticas. Assim sendo, a nossa compreensão do corpo humano não depende apenas do que vemos, mas também de como a linguagem estrutura essa compreensão. Este estudo foi publicado na revista científica Journal of Cognition, no artigo A Body Map Beyond Perceptual Experience, no âmbito do projeto de investigação 13/22 - RE-thinking the role of the spatial memory system in cognitive MAPs (acronym: REMAP), apoiado pela Fundação BIAL.
ABSTRACT
The human body is perhaps the most ubiquitous and salient visual stimulus that we encounter in our daily lives. Given the prevalence of images of human bodies in natural scene statistics, it is no surprise that our mental representations of the body are thought to strongly originate from visual experience. Yet, little is still known about high-level cognitive representations of the body. Here, we retrieved a body map from natural language, taking this as a window into high-level cognitive processes. We first extracted a matrix of distances between body parts from natural language data and employed this matrix to extrapolate a body map. To test the effectiveness of this high-level body map, we then conducted a series of experiments in which participants were asked to classify the distance between pairs of body parts, presented either as words or images. We found that the high-level body map was systematically activated when participants were making these distance judgments. Crucially, the linguistic map explained participants' performance over and above the visual body map, indicating that the former cannot be simply conceived as a by-product of perceptual experience. These findings, therefore, establish the existence of a behaviourally relevant, high-level representation of the human body.