Somos seres sociais e, por isso, muito do que sentimos e pensamos depende do que vemos nos rostos dos outros. Emoções como o medo e a raiva, por exemplo, dão-nos pistas cruciais sobre perigos à nossa volta. Curiosamente, o nosso cérebro consegue captar estas emoções mesmo sem termos consciência disso. No entanto, ainda há muito por descobrir sobre como as emoções “competem” para chegar à nossa consciência e o que isso pode revelar sobre a forma como reagimos emocionalmente. Uma equipa liderada por Liliana Capitão decidiu aprofundar esta temática e usar uma técnica chamada Supressão Contínua do Flash para perceber quanto tempo diferentes expressões — medo, raiva e felicidade — demoram a emergir à consciência. Os resultados mostram que rostos com expressão de medo são detetados mais rapidamente do que os de raiva ou felicidade. E, de forma inovadora, os investigadores encontraram uma ligação entre esta diferença e a tendência para sentir raiva após um momento frustrante: quanto maior a rapidez em detetar o medo, maior a predisposição para reagir com raiva. Estas descobertas ajudam a compreender melhor os processos inconscientes que moldam as nossas emoções e reações no dia a dia. Este estudo foi publicado na revista científica Consciousness and Cognition, no artigo Invisible Dangers”: Unconscious processing of angry vs fearful faces and its relationship to subjective anger, no âmbito do projeto de investigação 277/22 - Anger in the mind and body: From unconscious cognitive mechanisms to psychophysiological and neural substrates, apoiado pela Fundação BIAL.
ABSTRACT
Traditional paradigms for studying the unconscious processing of threatening facial expressions face methodological limitations and have predominantly focused on fear, leaving gaps in our understanding of anger. Additionally, it is unclear how the unconscious perception of anger influences subjective anger experiences. To address this, the current study employed Continuous Flash Suppression (CFS), a robust method for studying unconscious processing, to assess suppression times for angry, fearful and happy facial expressions. Following the administration of CFS, participants underwent an anger induction paradigm, and state anger symptoms were assessed at multiple timepoints. Suppression times for angry faces were compared to those for happy and fearful faces, and their relationship with state anger symptoms post-induction was examined. Results revealed that fearful faces broke suppression significantly faster than happy faces. Anger was slower to break suppression compared to fear, but no significant differences emerged between anger and happiness. In addition, the faster emergence into awareness of fear compared to anger was linked to an increased state anger after the induction, indicating that differences in the unconscious processing of these two emotions can potentially influence symptoms of subjective anger. These findings provide new insights into how angry and fearful faces are processed unconsciously, with implications for understanding the cognitive mechanisms underlying subjective anger.