Como a mente pode alterar a perceção das emoções?

Como a mente pode alterar a perceção das emoções?

A forma como interpretamos as emoções dos outros não depende apenas do que vemos, mas também do que pensamos. Estratégias como autossugestão (repetir internamente frases para moldar a perceção das emoções numa pessoa) e imaginação mental (recriar imagens sensoriais na ausência de estímulos reais) são simples, flexíveis e podem ser aplicadas sem ajuda externa.

Num estudo liderado por Elena Azañón, foram realizadas experiências para investigar se estas estratégias influenciam a perceção de expressões faciais. Em duas experiências os participantes foram convidados a repetir mentalmente frases como “ela está feliz” ao observar um rosto neutro (autosugestão). Noutra experiência, imaginavam esse mesmo rosto como estando feliz ou triste (imaginação mental). Depois, avaliavam novas faces e, de forma consistente, os participantes tendiam a perceber os rostos seguintes como mais felizes ou mais tristes, consoante a emoção que tinham sugerido ou imaginado. A autossugestão revelou efeitos mais marcados e consistentes.

Curiosamente, quando os investigadores apresentaram apenas palavras como “feliz” ou “triste” junto ao rosto neutro, não houve qualquer efeito. Isto indica que não basta uma associação superficial: é preciso envolver ativamente a mente para que a perceção seja realmente alterada.

Estes resultados sugerem que a autossugestão e a imaginação mental podem ser ferramentas promissores no treino e apoio psicológico, especialmente em perturbações do humor, como a depressão, onde há tendência para interpretar expressões de forma negativa.

Este trabalho foi publicado na revista científica Cognition, no artigo Autosuggestion and mental imagery bias the perception of social emotions, no âmbito do projeto de investigação 296/18 - The power of mind: Altering cutaneous sensations by autosuggestion, apoiado pela Fundação Bial.

ABSTRACT

Cognitive processes that modulate social emotion perception are of pivotal interest for psychological and clinical research. Autosuggestion and mental imagery are two candidate processes for such a modulation, however, their precise effects on social emotion perception remain uncertain. Here, we investigated how autosuggestion and mental imagery, employed during an adaptation period, influence the subsequent perception of facial emotions, and to which extent. Separate cohorts of participants took part in five experiments, where they either mentally affirmed (autosuggested; Experiments 1a and 1b) or imagined (Experiment 2) that a neutral face would be expressing a specific emotion (happy or sad). Subsequent facial emotion perception was then assessed by calculating points of subjective equality (PSEs) along a happiness-sadness continuum. Our results show that both autosuggestion and mental imagery induce a bias towards perceiving facial emotions in the direction of the desired emotion, with larger Bayes factors supporting autosuggestion. Experiment 3 confirmed the absence of effects when emotional words were presented together with a neutral face, suggesting a limited role of response bias in driving this effect. Finally, experiment 4 validated the experimental setup by demonstrating standard contrastive aftereffects when participants were adapted to actual, physical emotional faces. Together, our findings provide an initial step towards understanding the potential of intentional cognitive processes to modulate social emotions, specifically by biasing emotional face perception. With comparable effect sizes observed for both autosuggestion and mental imagery, both strategies show promise for self-directed interventions. Their practical applicability may vary due to individual responses, preferred cognitive strategies, and potential overlaps in underlying cognitive mechanisms.