Bolsa de Doutoramento Nuno Grande 2024 já tem vencedor

Bolsa de Doutoramento Nuno Grande 2024 já tem vencedor

Leonardo Moço, estudante do Programa Doutoral em Ciências Médicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), médico no IPO Porto e investigador no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), foi o vencedor da terceira edição da Bolsa de Doutoramento Nuno Grande (BDNG) com um projeto de investigação na área da hemato-oncologia.

Encontrar uma terapêutica eficaz que garanta o bem-estar dos doentes sem necessidade de recorrer ao uso intensivo e prolongado de corticoides para a Doença de Enxerto Contra Hospedeiro (DECH) é o principal objetivo do projeto de doutoramento vencedor da BDNG 2024, uma iniciativa da família do professor Nuno Grande, do ICBAS e da Fundação BIAL.

A DECH é uma patologia resultante da transplantação de medula óssea, a que muitos doentes com cancros hematológicos são submetidos. Em Portugal, cerca de 4.700 pessoas são diagnosticadas, anualmente, com cancros no sangue ou sistema linfático cujo tratamento, para além de uma quimioterapia intensiva, pode passar por um transplante de medula. “Quando a doença assume características de alto risco, o tratamento poderá passar por um transplante de progenitores hematopoiéticos, ou seja, submete-se o doente a uma quimioterapia muito intensiva que faz o reset da sua medula óssea, para posteriormente repovoá-la com o sistema hematopoiético e imunológico de um dador (alogénico) – para que o sistema imunitário dessa outra pessoa reconheça as células malignas do doente como estranhas e as combata”, explica o vencedor do prémio.

A questão, de acordo com Leonardo Moço, é que “o excerto contra o tumor/leucemia, sendo eficaz, tem o reverso da moeda, que é precisamente o facto de as células do dador poderem atacar também as células boas do doente, conduzindo um fenómeno denominado excerto contra hospedeiro”.

Mais de um quarto dos doentes submetidos ao transplante de medula óssea desenvolve a DECH, que na fase aguda afeta essencialmente a pele, o fígado e o tubo digestivo. Para além disso, a taxa de sobrevivência, nos casos mais severos de DECH, ronda os 40% ao fim de um ano. Números muito significativos que “fazem desta doença a principal causa de morte não decorrente da recaída do cancro”.

No trabalho que venceu a BDNG 2024, Leonardo Moço propõe-se a desenvolver um fármaco que reduza os efeitos colaterais e as comorbilidades associadas ao tratamento da DECH que assenta na toma de corticóides, “cuja exposição a longo prazo sabemos ter efeitos muito negativos, como obesidade, diabetes mellitus tipo 2, osteoporose severa, fraturas patológicas, patologia articular, cataratas, perturbações psiquiátricas, maior vulnerabilidade a infeções, entre outras”.

Para Leonardo Moço, a BDNG, no valor de 25.000 euros, vai ser essencial para “a aquisição de ferramentas e para o desenvolvimento de missões de aprendizagem que, acredito, me farão crescer muito como médico-investigador. Para além disso, ganhar este prémio, de um nome maior que todos nós, no ano em que se comemoram os 50 anos do ICBAS, uma casa onde me constituí como pessoa e profissional, é sem dúvida um enorme, e simbólico, privilégio”.

Atribuída pela primeira vez em 2023, no âmbito das comemorações da Figura Eminente 2022 da Universidade do Porto, a Bolsa de Doutoramento Nuno Grande tem como objetivo apoiar os trabalhos de investigação nas áreas das Ciências Fundamentais, nomeadamente aqueles que visam promover a aquisição de competências académicas diferenciadoras para o ensino da Medicina.

A entrega do prémio está agendada para maio, no âmbito das comemorações dos 50 anos do ICBAS.

Créditos foto:ICBAS