Stress da mãe durante a gravidez pode afetar o sono da criança na infância

Stress da mãe durante a gravidez pode afetar o sono da criança na infância

Estudo revela que o stress psicossocial das mães durante a gravidez tem associações negativas com o sono dos filhos ao longo da infância. Investigadores descobriram também que as associações com a duração do sono parecem atenuar-se com a idade.

O stress no início da vida do ser humano parece estar fortemente associado a um sono deficiente desde a infância até à idade adulta, com elevada probabilidade de os primeiros determinantes dos distúrbios do sono infantil poderem ser encontrados ainda no útero. Vários estudos associam os sintomas maternos de transtornos mentais durante a gravidez, em particular os sintomas depressivos e de ansiedade, a um sono pior até aos 3 anos de idade dos filhos.

No entanto, apesar de grande parte dos estudos realizados até à data indicarem que o sono infantil é afetado por um ambiente pré-natal de stress, permanecem algumas lacunas importantes, nomeadamente a falta de avaliação simultânea entre as associações do stress pré-natal com diferentes aspetos do sono das crianças (ex. duração e qualidade) e em diferentes períodos de desenvolvimento, ou a abordagem da potencial interação entre a predisposição genética e os efeitos ambientais na associação entre o stress pré-natal e o sono infantil.

Com o apoio da Fundação BIAL, Desana Kocevska e equipa investigaram o ambiente pré-natal quantificando os fatores stressantes para as mães durante a gravidez em vários domínios, incluindo eventos negativos de vida (ex. morte na família), fatores contextuais (ex. más condições de habitação, dificuldades financeiras), fatores parentais (ex. psicopatologia parental, abuso de substâncias) e fatores interpessoais (ex. dificuldades de relacionamento familiar). Além disso, estudaram os aspetos qualitativos do sono (problemas semelhantes à insónia) e duração do sono, nos filhos entre os 2 meses e os 6 anos de idade, ambos relatados pelo cuidador, e verificaram se a predisposição genética para problemas de sono potencia o efeito do stress pré-natal da mãe no sono da criança durante a primeira infância.

No artigo “A Longitudinal Study of Stress During Pregnancy, Children’s Sleep and Polygenic Risk for Poor Sleep in the General Pediatric Population”, publicado em julho na revista científica Research on Child and Adolescent Psychopatology, os autores indicam que obtiveram as informações sobre as crianças e os seus cuidadores a partir do The Generation R Study, uma coorte prospetiva de base populacional a partir da vida fetal, que incluiu 9.778 mães grávidas de Roterdão, nos Países Baixos. Com recurso a essa coorte, foi analisado o impacto do stress psicossocial pré-natal no sono de 4.930 crianças aos 2 meses, 18 meses, 2, 3 e 6 anos. Foi também determinado o risco poligénico (efeitos conjuntos de múltiplas variantes genéticas no genoma) para insónia numa subamostra de 2.063 crianças.

Os resultados obtidos revelaram um maior stress pré-natal total associado a mais problemas de sono em todos os momentos entre os 2 meses e os 6 anos de idade. Porém, a associação com menor duração do sono foi mais pronunciada até aos 2 anos de idade, parecendo atenuar-se com a idade.

De acordo com os investigadores do Netherlands Institute for Neuroscience, do Erasmus University Medical Center e da Vrije Universiteit Amsterdam, este parece ser o primeiro estudo a mostrar que um ambiente pré-natal stressante interage com o risco poligénico para sono insatisfatório para moldar o sono das crianças. “Curiosamente, os nossos resultados indicam que o stress pré-natal, e os acontecimentos negativos de vida em particular, interagem com a probabilidade genética para insónias, exacerbando os problemas de sono aos 6 anos de idade, mas não em idades mais precoces”, revela Desana Kocevska.

Saiba mais sobre o projeto “Pathways from prenatal and postnatal stress to sleep quality across childhood: The role of the amygdala and cortisol” aqui.

 


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