O seu cão tem competências sociais?

O seu cão tem competências sociais?

Estudo demonstrou que a visualização do rosto do dono funciona como reforço social positivo para os cães. Uma equipa de investigadores testou um grupo de cães apresentando-lhes uma tarefa de escolha bidirecional: um vídeo com a face do dono junto a uma recompensa alimentar e outro vídeo mostrando a parte de trás da cabeça do dono com igual recompensa alimentar. A comida associada ao rosto do dono registou a maior frequência de escolha.

Anna Kis dedica-se ao estudo do comportamento canino há mais de dez anos e tem alcançado resultados no mínimo intrigantes sobre o “melhor amigo do homem”. Por exemplo, constatou que os cães, tal como os humanos, podem ter más noites de sono depois de um dia stressante. Apesar de adormecerem rapidamente (curiosamente duas vezes mais rápido do que os cães que tiveram um dia não stressante), apresentam distúrbios no sono, registando menos tempo de sono profundo (ver mais aqui).

Noutro estudo, a investigadora coordenou uma equipa que se focou no efeito que a oxitocina – uma hormona produzida numa região do cérebro designada por hipotálamo - pode ter na cognição social canina. Constatou que a interação positiva com humanos pode aumentar os níveis de oxitocina nos cães (Hritcu et al., 2019; Kis et al., 2017), ao contrário do isolamento social, como acontece com os cães que vivem em abrigos, e onde se verificou a existência de níveis aumentados de cortisol – hormona associada ao stress (Gunter et al., 2019).

No seguimento deste estudo, o artigo publicado em agosto de 2021 na revista iScience pela equipa do Instituto de Neurociências Cognitivas e Psicologia da Academia Húngara de Ciências de Budapeste, composta por Anna Kis, Henrietta Bolló, Orsolya Kiss e József Topál, procurava perceber se o rosto do cuidador humano poderia ter um efeito na preferência dos cães numa tarefa de escolha bidirecional.

Uma amostra de 19 machos e 20 fêmeas de várias raças caninas com mais de um ano de idade assistiram então individualmente à projeção de dois vídeos em simultâneo: um com o rosto do seu dono ou dona (emocionalmente neutral) e outro que mostrava apenas a parte de trás da cabeça. Junto a ambas as projeções estava a mesma recompensa alimentar.

Tal como os humanos, em particular as crianças, e em concordância com estudos anteriores (por exemplo Stavropoulos & Carver, 2014), os cães mostraram um viés de seleção significativo em relação à comida colocada junto do rosto dos seus donos projetado em vídeo. Os autores deste estudo salientam que a investigação nesta área já tinha demonstrado que os cães consideram a interação social com humanos intrinsecamente gratificante, o que pode explicar a tendência da escolha do vídeo com o rosto do dono. Acresce que os resultados obtidos estão alinhados com estudos anteriores que sugerem que os cães percebem as faces humanas neutras como positivas em vez de negativas.

Em suma, este estudo reforça a ideia de que, tal como nós, os cães apresentam uma preferência comportamental por estímulos sociais humanos e consideram que estes têm um efeito recompensador para eles.

Saiba mais sobre o projeto apoiado pela Fundação BIAL “The potential effect of behavioral stimulation on social competence in dogs (via endogenous oxytocin release)” aqui.

Créditos foto Anna Kis - Family Dog Project, Budapest


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