Podemos autorregular o nosso cérebro através de treino?

Podemos autorregular o nosso cérebro através de treino?

É uma técnica usada há décadas no tratamento de transtornos mentais, como a epilepsia ou a hiperatividade, mas a sua eficácia clínica permanece controversa. Um estudo sobre neurofeedback revela que os efeitos comportamentais obtidos parecem ser os mesmos quer seja dado feedback real ou falso ao participante.

Em 2006 o jornalista Russel Adams do Wall Street Journal revelava ao mundo que os jogadores de futebol do A.C. Milan e outros atletas, como tenistas, golfistas, ginastas e esquiadores, haviam recorrido ao neurofeedback para melhorar o seu desempenho. Esta técnica neuro-comportamental não invasiva consiste na colocação de sensores no couro cabeludo do paciente para medir a atividade cerebral e treinar, através de filmes ou jogos de computador, por via da repetição, a autorregulação do seu cérebro.

A utilização do neurofeedback remonta a 1958 e começou por se focar no tratamento dos correlatos neurais de transtornos mentais, como autismo, epilepsia, PHDA, ansiedade e depressão. Mais recentemente, também tem sido usado por indivíduos sem diagnóstico clínico para aumentar a sua capacidade de concentração e desempenho atlético.

Os nossos neurónios comunicam através de descargas elétricas que podem ser amplificadas e descodificadas por aparelhos de eletroencefalografia (EEG). O neurofeedback recorre habitualmente à EEG para identificar as ondas cerebrais, os seus padrões, amplitudes e frequências, e permite treinar a atividade cerebral através de jogos e imagens projetadas num monitor, de modo a modificar padrões de ondas cerebrais e promover a capacidade de autorregulação.

A eficácia clínica do neurofeedback tem revelado ser tão promissora como controversa. Neste contexto, uma equipa de investigadores liderada por Amir Raz, que incluiu também Robert T. Thibault, ambos do Montreal Neurological Institute, McGill University (Canadá), estudou os mais recentes avanços tecnológicos no campo da imagem do cérebro humano. Com o apoio da Fundação BIAL, os investigadores reviram a literatura, realizaram experiências e analisaram o uso de neurofeedback com recurso a diferentes técnicas de neuroimagem, incluindo EEG, ressonância magnética funcional (fMRI) e magnetoencefalografia (MEG).

Quanto ao neurofeedback com recurso ao EEG, os dados obtidos revelaram que a motivação dos participantes, a sua confiança na tecnologia de imagem cerebral e as suas expetativas tiveram maior influência nas suas melhorias comportamentais do que observar seus próprios padrões cerebrais. Os investigadores concluíram que não é necessário informar o paciente sobre os resultados alcançados para se atingir o efeito comportamental esperado. “Significa que, quando damos aos pacientes feedback real ou falso, obtemos o mesmo resultado. Isso tem muitas repercussões porque este tipo de efeito placebo muda toda a nossa maneira de pensar sobre o neurofeedback”, reflete Amir Raz.

Em paralelo, um número crescente de estudos parece indicar que o neurofeedback com recurso a fMRI ou MEG pode ajudar os participantes na autorregulação do cérebro. Há, contudo, um aspeto relevante com a técnica de fMRI, que se relaciona com a posição corporal em que os estudos são realizados. Com efeito, na fMRI o participante está deitado (tipicamente em decúbito dorsal, isto é “de barriga para cima”). Ora, uma experiência com 12 participantes, sujeitos à técnica da MEG ​​em três posturas corporais (decúbito dorsal, reclinados a 45° e sentados), demonstrou que a postura ereta aumentou a atividade neural de alta frequência do hemisfério esquerdo do cérebro, que controla por exemplo a fala, e resulta num estado cerebral mais alerta. A eficácia do neurofeedback pode depender parcialmente de fatores como a postura corporal.

Os autores constataram que as modalidades de neurofeedback diferem muito no grau de regulação do cérebro e nas mudanças comportamentais que podem induzir. Raz e Thibault recomendam então que futuras experiências de neurofeedback recorram a desenhos experimentais robustos e que, por exemplo, levem em consideração as discrepâncias posturais.

Saiba mais sobre o estudo ”Recursive consciousness training: Using neurofeedback to induce altered state” aqui.


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