Investigadores analisaram estudos sobre experiências autorrelatadas relacionadas com a sensação de morte durante cerimónias de ayahuasca (Ayahuasca-induced Personal Death – APDs). Mais de metade dos participantes relatam terem sentido APDs e classificam-nas como experiências fortes e transformadoras, estando associadas a uma maior sensação de transcender a morte, bem como à certeza da continuação da consciência após a morte.
Apesar de existir um entendimento emergente sobre o papel fundamental das experiências subjetivas que se desenvolvem durante estados psicadélicos agudos, muito pouco tem sido feito no sentido de melhor caraterizar tais experiências e determinar o seu impacto a longo prazo.
Para colmatar essa lacuna, com o apoio da Fundação BIAL, Aviva Berkovich-Ohana e Yair Dor-Ziderman lideraram uma equipa internacional que examinou - pela primeira vez na literatura - as características e os resultados de experiências passadas autorrelatadas relacionadas com a sensação subjetiva de morte durante as cerimónias de ayahuasca, denominadas APDs.
No artigo “Ayahuasca-induced personal death experiences: prevalence, characteristics, and impact on attitudes toward death, life, and the environment”, publicado em dezembro na revista Frontiers in Psychiatry, os investigadores de Israel, EUA, Brasil e Espanha conduziram dois estudos. O Estudo 1 contou com 54 participantes, relata a prevalência, demografia, intensidade e impacto das APDs nas atitudes em relação à morte, explora a possível relação entre as APDs e a psicopatologia, e o seu impacto nas preocupações ambientais autorrelatadas. Já o Estudo 2 incluiu uma população maior e mais diversificada de 306 utilizadores de ayahuasca e teve como objetivo generalizar os resultados básicos obtidos no Estudo 1 relativamente às experiências de APDs, para além de tentar perceber se as APDs estão associadas a estratégias de coping e valores de vida autorrelatados.
Os resultados indicaram que as APDs ocorrem em mais de metade dos participantes em cerimónias de ayahuasca, são geralmente descritas como experiências intensas e transformadoras, e estão associadas a uma maior sensação de transcender a morte (Estudo 1), bem como à certeza da continuação da consciência após a morte (Estudo 2).
Os investigadores não encontraram associações entre as experiências de APDs e os dados demográficos, o tipo de personalidade e a psicopatologia. No entanto, as APDs estavam associadas a uma maior preocupação ambiental (Estudo 1). Estas experiências também mostraram ter um impacto profundo na vida dos participantes, tendo-se verificado que as APDs estavam associadas a um aumento da capacidade de lidar com problemas de vida causadores de angústia e com a sensação de realização na vida (Estudo 2).
De acordo com o investigador principal Jonathan David, os resultados do estudo “destacam a prevalência, segurança e potencial das experiências de morte que ocorrem durante as cerimónias de ayahuasca, distinguindo-as enquanto possíveis mecanismos para os efeitos salutares a longo prazo dos psicadélicos em populações não clínicas”.
Saiba mais sobre o projeto “191/20 - Understanding the brain mechanisms of death-denial for fostering mindfulness-based existential resilience” aqui.