Projeto analisou as bases biológicas da empatia em casais, incluindo a atividade eletrodérmica e cardíaca, o nível de cortisol e o padrão de ativação cerebral. Estes estudos são relevantes para “compreender o funcionamento adaptado dos casais, algo crucial dadas as consequências nefastas da violência conjugal”, refere a investigadora Joana Coutinho.
A principal inovação destes estudos foi a utilização de estímulos “reais” para analisar os correlatos neurais da empatia, já que a maioria dos paradigmas usados pela neurociência social recorre a estímulos ficcionais. “Assim, selecionámos uma amostra de 64 indivíduos, envolvidos numa relação amorosa com duração mínima de um ano”, explica Joana Coutinho, investigadora do Laboratório de Neurociência Psicológica da Universidade do Minho, responsável pelo projeto.
Numa primeira fase, cada casal executou uma tarefa de interação, discutindo aspetos positivos e negativos do relacionamento, enquanto eram medidos os níveis de cortisol, atividade cardíaca e eletrodérmica. Os resultados revelaram uma maior ativação do sistema nervoso autónomo e resposta neuroendócrina na interação negativa do casal. Verificamos também que a sincronia fisiológica entre os elementos do casal (avaliada pela co-variação das respostas fisiológicas de ambos os parceiros) dependia da valência das emoções expressas pelos parceiros.
Posteriormente, o filme dessa interação foi usado para criar excertos de vídeo, em que cada parceiro expressava aspetos positivos e negativos do relacionamento. Através de um estudo de fMRI (ressonância magnética funcional) foi medida a atividade cerebral de cada participante, enquanto visualizava o vídeo do seu cônjuge e lhe era pedido que se focasse na experiência do seu cônjuge ou na sua própria experiência face ao conteúdo do vídeo.
Encontrou-se uma sobreposição neuroanatómica importante no padrão de ativação cerebral quando os indivíduos se focavam nos seus próprios sentimentos e nos do seu/sua parceiro/a. A semelhança nas áreas cerebrais ativadas em ambas as condições apoia a ideia de que a compreensão dos nossos estados internos e os dos outros próximos requer processos psicológicos e mecanismos cerebrais similares. De certa forma, para compreender os estados internos de alguém próximo começamos por os “simular” em nós próprios.
“Com o apoio da Fundação BIAL, foi possível realizar este projeto que, ao usar tarefas mais ecológicas, contribuiu para uma melhor compreensão de como as redes do cérebro social são modeladas por interações sociais ‘reais’”, conclui Joana Coutinho. Além do impacto científico, estes estudos “têm um impacto social, ao nível da compreensão do funcionamento adaptado dos casais, algo crucial considerando consequências nefastas da violência conjugal quer para os membros do casal, como para aqueles que a testemunham como as crianças”, refere a investigadora.
Joana Coutinho realça ainda que “as questões aqui analisadas são transversais a outras díades tais como a díade mãe-bebé”. Por outro lado, devido às alterações na cognição social observadas em várias perturbações psicológicas - desde a depressão ao autismo– a investigadora considera que os estudos das bases biológicas da cognição social podem beneficiar também a intervenção clínica. “Por exemplo, poderemos testar se ao intervir num processo centrado no próprio individuo, também melhoraremos a sua capacidade para compreender e se relacionar com os outros”, revela Joana Coutinho.
A equipa de investigação, liderada por Joana Coutinho, incluiu Patrícia Oliveira-Silva, Jean Decety, Kristin McGovern, Óscar Gonçalves e Vânia Lima, num consórcio de investigadores da Universidade do Minho, Universidade de Chicago e Universidade de Ball State.
Saiba mais sobre o projeto “Correlatos neurobiológicos de empatia em casais: um estudo de medidas centrais e periféricas” aqui.