Em que medida os limites do nosso corpo parecem desaparecer durante a meditação de atenção focada?

Em que medida os limites do nosso corpo parecem desaparecer durante a meditação de atenção focada?

Estudo experimental com participantes não praticantes de meditação revela que uma sessão de meditação de atenção focada de 15 minutos permitiu esbater a fronteira entre o eu e o ambiente, confirmando a sensação de desaparecimento dos limites do corpo relatada por praticantes de meditação.

Durante a meditação, há praticantes que relatam frequentemente a sensação de que os limites do seu corpo estão a desaparecer. Quando questionados sobre a causa desta experiência, atribuem-na a uma sensação de abandono da necessidade de autoproteção e de se sentirem mais ligados ao mundo que os rodeia.

Falamos aqui do espaço peripessoal (em inglês peripersonal space - PPS), ou seja, uma representação multissensorial dinâmica do espaço à volta do corpo, influenciada por informação sensorial interna e externa. A maleabilidade dos limites do PPS, evidenciada pela sua expansão após a utilização de ferramentas ou modulação através de interações sociais, posiciona o PPS como um elemento crucial na compreensão das experiências subjetivas do eu e do outro.

Com base na literatura existente, que destaca os efeitos cognitivos e corporais da meditação mindfulness, Luca Simione e colaboradores propõem uma nova abordagem a este tema através de um estudo experimental sobre o impacto da meditação na nitidez do PPS em não praticantes de meditação, colocando a hipótese de se registar um esbatimento da fronteira entre o eu e o ambiente, em consonância com os relatos empíricos de praticantes de meditação.

No artigo “Mindfulness Affects the Boundaries of Bodily Self-Representation: The Effect of Focused-Attention Meditation in Fading the Boundary of Peripersonal Space”, publicado como cover story na revista científica Behavioral Sciences de abril, os autores explicam que o estudo realizado envolveu 26 participantes não praticantes de meditação numa sessão de meditação de 15 minutos para avaliação do PPS, tanto na extensão como na nitidez dos seus limites.

Durante a experiência, os participantes ouviram uma voz pré-gravada que os encorajava a manter a consciência das sensações respiratórias e a deixar de lado pensamentos ou conteúdos mentais que os distraíssem. Esta prática de meditação é conhecida como meditação de atenção focada (em inglês focused-attention meditation - FAM). No final da sessão de meditação, foi-lhes pedido que avaliassem o seu grau de sucesso na realização da prática de meditação de atenção focada na respiração, respondendo numa escala de Likert de 1 a 5.

Os resultados demonstraram que a sessão de meditação de atenção focada modificou a representação do PPS no grupo de participantes não praticantes de meditação. Especificamente, observou-se que a FAM conduziu a um esbatimento das fronteiras do PPS.

Esta descoberta, que contou com o apoio da Fundação BIAL, alinha-se com os relatos dos praticantes de meditação, confirmando que a experiência fenomenológica de redução da separação entre o eu e o mundo exterior pode estar relacionada com a modulação da representação do PPS.

Luca Simione, investigador do Institute of Cognitive Sciences and Technologies (Itália), realça que esta investigação experimental “oferece informações cruciais sobre os mecanismos fundamentais subjacentes à influência da meditação mindfulness no bem-estar psicológico e na cognição social e está potencialmente em sintonia com o conceito budista de anatta, ou não-eu”.

Saiba mais sobre o projeto “309/20 - Assessing static and dynamic effects of mindfulness meditation on peripersonal space” aqui.


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