Estudo avaliou o funcionamento psicobiológico de 27 médicos e paramédicos de Emergência Médica Pré-Hospitalar durante duas semanas. Os resultados sugerem que o aumento da resposta ao stress psicológico e biológico durante os períodos de emergência é adaptativo e essencial. No entanto, quando os profissionais lidam frequentemente com emergências, o corpo tem de responder com demasiada frequência e durante demasiado tempo, o que pode ter impacto no bem-estar e conduzir ao esgotamento. A investigação salienta a importância dos períodos de recuperação para manter a saúde e o bem-estar dos profissionais de saúde.
As situações em que as exigências percebidas de um evento excedem a nossa capacidade percebida de lidar com ele são interpretadas como desafiantes ou ameaçadoras e podem provocar stress. Para lidar com estes acontecimentos desafiantes ou stressantes são ativados mecanismos biológicos que, através da produção das hormonas adrenalina e cortisol, facilitam a libertação e a mobilização de recursos energéticos para lidar com as ameaças.
A experiência de eventos desafiantes agudos é uma caraterística omnipresente naqueles que prestam cuidados de emergência críticos e que se adaptam dando respostas fisiológicas rápidas para fornecer os recursos necessários para lidar com a situação emergente. A natureza desta ocupação profissional, no entanto, significa que estas respostas são provavelmente frequentes, com oportunidades mínimas de recuperação. Dado que a ativação repetida das respostas fisiológicas de stress conduz, frequentemente, a estados de esgotamento (burnout), estes profissionais estão particularmente em risco ao nível da saúde e bem-estar.
A monitorização de indivíduos em emergências reais permitiria compreender as suas respostas ao stress durante a prestação de cuidados críticos, porém apresenta desafios logísticos. Uma alternativa consiste em avaliar os indivíduos durante cenários de formação de elevada fidelidade, ou seja, representações altamente realistas de cenários equivalentes ao do mundo real. Foi neste contexto que Mark A. Wetherell e colaboradores realizaram a primeira avaliação exaustiva, e a mais abrangente até à data, da resposta psicobiológica durante a formação de alta-fidelidade em medicina de emergência pré-hospitalar.
Com o apoio da Fundação BIAL, os investigadores da Northumbria University e do James Cook University Hospital (UK) recorreram a uma amostra de médicos e paramédicos (N = 27) e avaliaram o seu funcionamento psicobiológico em 10 dias de formação e num fim de semana sem atividades. A formação foi de alta-fidelidade e baseada em cenários reais (tais como acidentes rodoviários, incidentes com armas de fogo e operações de salvamento em águas rápidas) de modo a que os profissionais desenvolvessem competências e conhecimentos para atuarem em ambientes pré-hospitalares complexos e stressantes.
Foram identificados diferentes padrões de resposta psicobiológicos entre os dias de formação e os fins de semana, com níveis mais elevados de ansiedade, stress, preocupação, frequência cardíaca e cortisol nos dias de formação, e níveis mais baixos ao fim de semana. Além disso, observou-se que nos dias de formação com maior carga de trabalho físico e psicológico, os profissionais relataram menores níveis de recursos e controlo de reação e apresentaram maiores níveis de resposta psicobiológica.
Os resultados obtidos foram apresentados no artigo “Assessing the psychobiological demands of high-fidelity training in pre-hospital emergency medicine”, publicado em outubro na revista científica Scandinavian Journal of Trauma, Resuscitation and Emergency Medicine, onde os autores exploram como situações de emergência (com diferentes cargas) e de recuperação afetam as respostas emocionais, comportamentais e fisiológicas dos profissionais de saúde. Ainda que o estudo tenha sido realizado em situação de formação, este foi de alta-fidelidade e baseado em situações reais, sendo por isso representativo das experiências quotidianas dos prestadores de cuidados de emergência críticos.
Considerando relatórios recentes que demonstram que “mais de 50% das pessoas que prestam cuidados médicos de emergência apresentam níveis moderados a elevados de burnout, este estudo vem reforçar a importância da oportunidade de recuperação para evitar as consequências negativas da ativação fisiológica repetida e sustentada dos mecanismos biológicos para lidar com acontecimentos desafiantes na saúde e no bem-estar destes profissionais”, sublinha Mark A. Wetherell.
Saiba mais sobre o projeto “26/20 - Anticipation and experience of stressful situations and their psychobiological impact on providing pre-hospital emergency medicine care” aqui.
Assista ao vídeo de Mark A. Wetherell aqui.