Análise à audição dos recém-nascidos pode predizer desenvolvimento neurofisiológico aos 12 meses

Análise à audição dos recém-nascidos pode predizer desenvolvimento neurofisiológico aos 12 meses

Investigadores portugueses comprovaram que a avaliação auditiva em bebés de idade precoce pode ajudar a prever marcos e a detetar precocemente marcadores de perturbações do neurodesenvolvimento.

Diversos estudos sugerem que a resposta do cérebro a diferentes intensidades de estímulos auditivos em bebés recém-nascidos pode fornecer informações importantes sobre habilidades básicas de processamento sensorial auditivo, com efeitos em cascata em aspetos como organização comportamental, envolvimento social e, consequentemente, competências linguísticas (Benasich & Tallal, 2002; Benasich et al., 2002; Cruz et al., 2018; Kushnerenko, Tomalski, Ballieux, Potton, et al., 2013; Kushnerenko, Tomalski, Ballieux, Ribeiro, et al., 2013; Marcoux, 2011).

Foi a partir deste estado da arte que os investigadores Sara Cruz, Alberto Crego, Carla Moreira, Eugénia Ribeiro, Óscar Gonçalves, Rita Ramos e Adriana Sampaio iniciaram o estudo que deu origem ao artigo “Cortical auditory evoked potentials in 1-month-old infants predict language outcomes at 12 months”, publicado em janeiro de 2022 na revista Infancy. No estudo participaram 18 díades mãe-bebé recrutadas ao nascimento, cumprindo todos os bebés os critérios de terem nascido a termo, com peso >2500 g, índice de Apgar de 9/10 no 10º minuto, e terem passado no teste de audição médica. Os bebés foram avaliados em dois momentos diferentes: com um mês e com 12 meses de idade.

No artigo, os investigadores explicam que, com recurso a elétrodos, registaram os CAEP - Cortical Auditory Evoked Potentials (Potenciais Evocados Auditivos Corticais), ou seja, uma série de ondas geradas no córtex auditivo em resposta ao som, para examinar os componentes denominados P2 e N2 para duas intensidades de estímulo auditivo em lactentes de um mês de idade. De seguida, procuraram correlacionar os CAEP a ambos os estímulos auditivos com as competências neurocomportamentais, uma vez que a reatividade dos bebés a estímulos externos (características de interação social) e internos (habilidades autorregulatórias) tem sido associada ao comportamento do tipo social (Brazelton & Nugent, 1995; Cruz e outros, 2015).

Finalmente, a equipa de investigadores liderada pela Universidade do Minho procurou comprovar se a resposta neurofisiológica registada nos bebés com um mês de idade predizia resultados de desenvolvimento aos 12 meses. “Até onde sabemos, nenhum outro estudo abordou estas questões utilizando uma abordagem neurofisiológica em respostas a diferentes intensidades de estímulos auditivos e avaliação do desenvolvimento ” revela Adriana Sampaio, investigadora apoiada pela Fundação BIAL.

“Neste estudo comprovámos que os CAEP em bebés de um mês de idade estão relacionados com o comportamento interativo e autorregulador de habilidades e, em bebés de 12 meses, com as competências linguísticas”, revela a investigadora da Escola de Psicologia da Universidade do Minho.

Os dados obtidos foram consistentes com estudos anteriores que indicam uma associação entre o processamento auditivo e os resultados do desenvolvimento em bebés, o que pode ser determinante para a deteção precoce de perturbações neurodesenvolvimentais das crianças.

Saiba mais sobre o projeto “Marcadores fisiológicos de processamento sensorial do recém-nascido” aqui.


Análise à audição dos recém-nascidos pode predizer desenvolvimento neurofisiológico aos 12 meses

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