Investigadores estudaram a associação entre o bruxismo do sono autorrelatado, a insónia e os seus potenciais fatores de risco, como a depressão e a ansiedade. Os resultados demonstraram que, embora o bruxismo não tenha associação direta com a insónia, a ansiedade é um fator de ligação entre essas variáveis.
De acordo com Lobbezoo e colaboradores (2013), o bruxismo é uma atividade muscular da mandíbula caracterizada pelo apertar ou ranger dos dentes ou empurrar da mandíbula, que pode ocorrer durante o sono (bruxismo do sono) ou durante a vigília (bruxismo acordado). O bruxismo do sono (SB – Sleep Bruxism) pode estar associado a fatores biológicos, psicológicos e de estilo de vida.
Os fatores psicossociais mais comumente relatados nos estudos sobre o SB são stresse, ansiedade, depressão e fatores sociais como a insatisfação no trabalho, embora as evidências do papel desses fatores não sejam definitivas (Lobbezoo & Naeije, 2001; Manfredini & Lobbezoo, 2009; Ohayon et al., 2001). Também fatores de estilo de vida, como tabagismo, consumo de álcool e consumo de café, podem ser considerados como fatores de risco para o SB (Ohayon et al., 2001).
Como condições comórbidas do SB foram ainda identificados distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva do sono, a síndrome das pernas inquietas ou a doença do refluxo gastroesofágico (Lobbezoo et al., 2020). Além disso, também a insónia tem sido sugerida como uma comorbilidade do SB (Maluly et al., 2020; Mayer et al., 2016; Schutte-Rodin et al., 2008).
Considerando que os estudos anteriores investigaram associações entre o SB, insónia, ansiedade e depressão principalmente de forma univariada, os investigadores Thiprawee Chattrattrai, Tessa Blanken, Frank Lobbezoo, Naichuan Su, Ghizlane Aarab e Eus J.W. Van Someren dedicaram-se a analisar as associações entre o bruxismo do sono autorreferido e outras variáveis, não só por análise univariada, mas também por regressão logística multivariada e análise de rede.
No artigo “A network analysis of self-reported sleep bruxism in the Netherlands sleep registry: its associations with insomnia and several demographic, psychological, and life-style factors”, publicado na revista Sleep Medicine em março de 2022, a equipa do Netherlands Institute for Neuroscience, University of Amsterdam e Vrije Universiteit Amsterdam (Holanda) e da Mahidol University (Tailândia) relata que foram aplicados questionários a 2251 participantes (352 com SB autorrelatado e 1899 sem SB autorrelatado) do Registo do Sono da Holanda sobre bruxismo do sono, insónia, depressão, ansiedade, frequência de tabagismo e consumo de álcool e cafeína.
Embora a análise univariada tenha mostrado uma associação positiva entre o bruxismo do sono e a insónia, essa associação desapareceu no modelo de regressão logística multivariada, ou seja, quando fatores de idade, psicológicos e de estilo de vida foram levados em consideração. No entanto, o modelo multivariado revelou uma associação indireta entre o bruxismo do sono e a ansiedade.
“Concluímos que, embora o bruxismo do sono autorrelatado não tenha associação direta com a insónia, a ansiedade pode funcionar como um fator de ponte entre estes distúrbios, pelo que ao tratar o BS e a insónia, a gestão da ansiedade não deve ser negligenciada, devendo ser pedida a colaboração interprofissional de médicos e dentistas”, realça Tessa Blanken, investigadora apoiada pela Fundação BIAL.
Saiba mais sobre o projeto “The whole is more than the sum of its parts: Elucidating the link between sleep quality and well-being by integrating cross-modal networks” aqui.