Estudo revela que os investigadores que estudam as capacidades psíquicas (psi, em inglês) diferem dos indivíduos leigos crentes nessas capacidades, mas não dos céticos no que diz respeito ao pensamento ativamente aberto. Apesar de acreditarem nos fenómenos da psi, os investigadores demonstram um compromisso com a necessidade de obter provas científicas que não é diferente da dos céticos.
Os fenómenos psíquicos, tais como a perceção extrassensorial (suposta capacidade de perceber informações sem usar os sentidos físicos) ou psicocinese (suposta influência de processos mentais em sistemas físicos), há muito que cativam o interesse e a curiosidade da humanidade, sendo a crença na psi relativamente elevada entre a população em geral.
Muitas vezes essa crença é, no entanto, encarada com ceticismo e descartada como irracional e não científica, particularmente entre os académicos. Isto apesar da investigação académica sobre fenómenos psi remontar ao século XIX e continuar até hoje a produzir estudos académicos publicados em revistas de psicologia e neurociências.
Em forte contraste com os académicos em geral, a maioria dos investigadores no campo da psi parece apoiar a realidade da psi, mas será que são assim tão diferentes dos céticos com formação académica similar em termos de consideração de provas inconsistentes e da sua motivação para procurar a resposta "correta”? E relativamente aos leigos crentes, será que os investigadores psi diferem na forma como abordam o conhecimento, as provas e a ambiguidade?
No artigo “Cognitive styles and psi: psi researchers are more similar to skeptics than to lay believers”, publicado na revista científica Frontiers in Psychology de junho, Marieta Pehlivanova e equipa relatam que investigaram as diferenças nos estilos cognitivos entre quatro grupos heterogéneos relativamente à crença em psi, às atitudes e envolvimento na investigação relacionada: investigadores académicos de psi, leigos crentes em psi, académicos céticos e leigos céticos.
Com o apoio da Fundação BIAL, os investigadores da University of Virginia School of Medicine (EUA) pretenderam neste estudo testar a hipótese de que os investigadores académicos psi podem apresentar estilos cognitivos diferentes dos indivíduos leigos interessados em psi, mas semelhantes aos céticos. Sem surpresa, verificaram que, dado o seu diferente envolvimento com fenómenos psíquicos, os investigadores psi relataram uma crença significativamente maior e experiência percebida com fenómenos psi em comparação com os académicos céticos, confirmando estudos anteriores.
No entanto, os resultados obtidos demonstraram também que, tal como previsto, os investigadores psi e os académicos céticos não mostraram qualquer diferença nos estilos cognitivos do pensamento ativamente aberto (actively open-minded thinking, em inglês) e da necessidade de resposta (need for closure, em inglês). Por outro lado, os investigadores psi mostraram maior abertura de espírito em comparação com os leigos crentes, o que sugere que estão mais dispostos a considerar provas que contradigam as suas crenças.
Em conjunto, os resultados obtidos sugerem que “esses dois grupos (investigadores académicos de psi e académicos céticos), que estão filosófica e empiricamente em desacordo em relação às evidências de fenómenos psi, não diferem no seu apoio aos princípios de "bom" pensamento sobre evidências”, salienta Marieta Pehlivanova.
Saiba mais sobre o projeto “212/20 - Comparing cognitive styles among parapsychology researchers, psi-believers, and skeptics” aqui.