Quem tem melhor memória autobiográfica pode ser mais criativo?

Quem tem melhor memória autobiográfica pode ser mais criativo?

Investigadores de universidades de Itália e dos EUA estudaram a relação entre a memória e a criatividade para aferir se quem se lembra dos mais ínfimos pormenores da sua vida (elevada memória autobiográfica) pode ter maior propensão para o pensamento criativo. Os resultados demonstraram que não.

Ainda há muito para descobrir sobre a relação entre a memória e a criatividade, mas pensa-se que as ideias criativas possam resultar da recombinação flexível de conceitos da memória. Vários estudos comportamentais e neurocientíficos corroboram este pressuposto ao comprovarem uma ligação entre a memória episódica e o pensamento divergente, que é a base para o aparecimento de ideias criativas.

Os investigadores Sarah Daviddi, William Orwig, Massimiliano Palmiero, Patrizia Campolongo, Daniel L. Schacter e Valerio Santangelo, das Universidades de Perugia, Áquila, Roma La Sapienza (Itália) e Harvard (EUA), juntaram-se para analisar as potenciais contribuições da memória autobiográfica para a conceção criativa, uma relação ainda pouco estudada.

No artigo “Individuals with highly superior autobiographical memory do not show enhanced creative thinking”, publicado na revista científica Memory em julho de 2022, os autores explicam que avaliaram o pensamento criativo divergente e convergente numa coorte de 14 indivíduos raros que apresentavam Memória Autobiográfica Altamente Superior (HSAM), tendo sido comparados com um grupo de controlo composto por uma coorte de 28 indivíduos que apresentavam memória normal.

O grupo de indivíduos HSAM completou várias tarefas de memória e a sua criatividade foi medida através de exercícios como a Tarefa de Usos Alternativos, Tarefa de Consequências e Tarefa de Associados Remotos. Foram depois realizadas análises estatísticas para avaliar a existência de  diferenças relevantes entre o grupo HSAM e o grupo de controlo relativamente a essas medidas.

Os resultados revelaram que, embora os participantes do grupo HSAM tenham sido superiores na recordação de eventos autobiográficos em comparação ao grupo de controlo, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos no que diz respeito às medidas de criatividade.

A equipa multidisciplinar de investigadores concluiu então que os processos episódicos construtivos relevantes para o pensamento criativo não são potenciados em indivíduos com um desempenho altamente superior de memória autobiográfica. Uma justificação possível será por estarem compulsiva e estreitamente focados na consolidação e recuperação de eventos autobiográficos.

Um dos autores do artigo, Valerio Santangelo da Universidade de Perugia, e Sabrina Fagioli da Universidade de Roma Tre, investigam agora, com o apoio da Fundação BIAL, as características fisiológicas específicas dos indivíduos com um desempenho altamente superior de memória autobiográfica.

Saiba mais sobre o projeto “Psychophysiology of highly superior autobiographical memory: Shedding light on the mind of people who never forget” aqui.


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